Quando fiquei sabendo da greve geral que está acontecendo na França, tive mais uma vez orgulho de ter morado em um país com valores tão importantes e especiais. Se os franceses não estão de acordo, eles encontram a coragem e a disposição para sair às ruas e gritar bem alto que estão descontentes.
Mobilizam todas as classes sociais. Fazem sacrifícios (Quem pensa que os grevistas também não se incomodam de não ter transporte público, de faltar gasolina, entre tantas outras consequências de uma greve geral? Bom, muita gente – inclusive franceses - acha que eles só querem bagunça). Envolvem os jovens; e a França sabe bem a diferença que faz manter uma população jovem interessada, politizada e engajada.
Gostaria muito de estar errada, mas na minha opinião a atitude mais comum dos brasileiros descontentes é enviar e-mails com piadas e insultos sobre o governo, e não importa se é de direita ou esquerda...
Hoje encontrei este texto de um leitor do jornal carioca " O Globo" sobre este assunto (José Luiz Almeida Costa), e resolvi copiar ele aqui:
É bom prestarmos atenção nas recentes manifestações civis contrárias às reforma previdenciária ocorrida na França. Sempre que vão para a rua, os franceses influenciam o rumo da história de toda a civilização. Eles têm a exata percepção do momento oportuno em que a sociedade civil deve se emancipar do Estado quando este tenta lhe impor sacrifícios que a própria máquina de governo não está disposta sofrer.
Os exemplos clássicos foram a Revolução Francesa e as manifestações estudantis de 1968. Seus efeitos repercutiram em outros países. Atualmente, o impasse surgiu porque o governo de Nicolas Sarkozy propõe a mudança da idade mínima para aposentadoria, de 60 para 62 anos, o que os trabalhadores franceses não concordam. Para demonstrar que não estão brincando, pararam o país.
Querem chamar a atenção para o fato de que previdência não se trata de um simples cálculo atuarial que condiciona a qualidade de vida dos aposentados com o volume de contribuições arrecadadas. Esse é o caso do Brasil. Nosso governo decreta de maneira tácita que ficar velho é prejuízo para o Estado. Na visão míope da administração pública, uns estão na ativa, enquanto outros são inativos. O aposentado se sente logrado quando compara o que contribuiu com o mísero valor recebido, salvo se ele tiver sido funcionário público. Neste aspecto, tal qual a França de Luís XVI, no Brasil atual existe uma casta de privilégios quando se trata de aposentadorias.
Não existe transparência na arrecadação do bolo previdenciário. Nunca houve demonstração contábil entre a arrecadação do setor privado e a arrecadação do setor público. É comum misturar contas previdenciárias com o déficit público.
Previdência é uma questão de nação. Deve ser tratada como um laço de irmandade que nos distingue da moral da fábula francesa da formiga e da cigarra. Trata-se de um pacto social que distingue dois estágios do ciclo de vida, o estado lúdico e o estado produtivo. Nascemos cigarras, passamos a ser formigas e voltamos a ser cigarras. Se somos civilizados é porque respeitamos esse princípio.
No Brasil, existe uma bomba-relógio demográfica que vai explodir nos próximos 30 anos, quando teremos mais aposentados do que trabalhadores contribuintes. O futuro do país depende do estado de espírito empreendedor da juventude.
Na França, os jovens aderiram à manifestação. Aqui, boa parte opta por fazer concursos públicos para tirar proveito de aposentadorias integrais em vez de se tornarem empreendedores.
A iniciativa privada é o fermento do bolo previdenciário. Mas, infelizmente, faltam escolas de empreendedorismo e sobram cursinhos preparatórios para concursos públicos. Não havendo contribuições do setor privado, os aposentados públicos também ganharão ninharias.
Em vez de jogarmos essa bomba para as gerações futuras, carecemos de uma educação previdenciária para todas as faixas etárias como forma de desarmá-la.
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