segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Barracas e barracos

Eu sou fã do estilo mais básico de ir à praia: levando uma canga, um lanchinho, e ficando na areia o dia todo, sem muitas mordomias. Para mim, a praia aqui em Fortaleza me pareceu estranha: quase ninguém fica na areia deste jeito clássico, todos ficam nas barracas de praia.
Na verdade, acho que Fortaleza não é um destino final; é uma cidade com várias opções de hotéis e de restaurantes, para que os turistas tenham uma boa base para conhecer outros lugares. Jericoacoara, ao contrário, é um destino final, e Fortaleza neste caso é a cidade mais próxima com aeroporto de grande porte. Então realmente não há muita gente nas praias de Fortaleza durante o dia.
Isto porque existem várias empresas de turismo que vendem passeios de um dia para conhecer as praias próximas à Fortaleza, que realmente são paradisíacas: praias de areia branca e mar azul intermináveis, com dunas. Então me parece que os turistas não ficam durante o dia na cidade; chegam no fim da tarde e aí sim aproveitam a ferinha de artesanato e os restaurantes na beira mar. Acho que até deve ser por isso que há incentivos para o turismo de negócios e eventos: Fortaleza terá o maior centro de convenções da América Latina.
Bom, para os que ficam em Fortaleza, praia é no esquema das barracas de praia, que são restaurantes que colocam mesas de plástico, guarda-sol e espreguiçadeiras na areia. Como o preço realmente é acessível (o coco aqui é R$1, em algumas barracas chega à R$2, no máximo), todo mundo senta nas mesas e fica ali o dia todo, pede um camarão, uma cerveja e por aí vai... A espreguiçadeira é alugada por volta de R$3 o dia.
O conceito "barracas de praia" atinge seu auge na Praia do Futuro. A barraca Crocobeach, maior e mais famosa de todas, tem piscina; diversos tipos de bares; músicas ao vivo que vem de todo lado; alinhamentos de mesas infinitos; buffet por kilo; massagem; etc, etc... Tudo isso sem pagar entrada, pagando apenas o que consumir.
Mesmo possibilitando a maravilha de uma hora de massagem por R$ 20 (com inúmeros "brindes" do tipo limpeza facial, spa dos pés, banho de lua, e já não me lembro mais do resto), não consegui me acostumar com o tal "conceito". Para mim, não é realmente aquele belo e clássico dia de praia – porque com tanto guarda-sol, cadeira e não sei mais o quê, lugar para tomar sol mesmo, fica difícil.
E daí as barracas ocupam toda a praia, uma em seguida da outra. E se você resolve se aventurar, e descobrir um lugar mais longe, sem barracas, para poder ter o seu dia "clássico" de praia, logo aparece um policial para dizer que é perigoso.
A reflexão que eu faço é: será mesmo perigoso? Acredito que sim, afinal de contas, o bairro da Praia do Futuro me pareceu em parte abandonado, em parte tomado por barracos (lá pra dentro não são mais barracas de praia, e sim favelas). Mas será que a solução é criar barracas e mais barracas? Privatizando o espaço público e tão democrático que costuma ser a faixa de areia, como mostra o exemplo do Rio de Janeiro, retratado pelo documentário que eu indiquei aqui...
Além das barracas de praia, outra coisa me pareceu estranha por aqui. A polícia é equipada com carros de luxo, e fazem a agora conhecida "ronda" com grandes caminhonetes Hilux, ou nas areias das praias, com jipes Troller. Detalhe, parece que eles são os mais mal pagos do país, e logo que receberam os carros, houve vários casos de acidente feio.
Eu concordo que é preciso equipar bem a polícia, mas acho que primeiro de tudo é preciso uma boa formação dos profissionais (sair capotando caminhonete de luxo por aí não é bem um símbolo de boa formação...) e consequente remuneração à altura. Além disso, para fazer ronda, será que não serve um bom Golzinho 2.0?
Ah, e só para terminar, os tais jipes Troller ficam fazendo ronda até em praias paradisíacas. Acompanhando os turistas, se eles vieram em grupos para um passeio. Faço de novo a mesma pergunta: será que é mesmo perigoso? Pra falar bem a verdade, quando vi a polícia na praia, pensei "nossa, aqui também é perigoso", mas continuei andando... Mais à frente, tinha uma vila de pescadores tranquilos... Crianças brincando no mar e na areia...
Não podemos ser descuidados, afinal ninguém é ingênuo à ponto de pensar que uma grande cidade como Fortaleza é super segura como uma cidade européia. Mas, sinceramente, acho que nos dias de hoje temos que ter medo do que realmente vemos e sentimos – entrar em um beco escuro, por exemplo, não é uma boa idéia. Se ficarmos com medo de tudo o que indicam para nós que é perigoso, é melhor viver em uma bolha!

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